O pai era o diretor, o filho, aluno na escola que ele dirigia. Nunca saiam juntos, o jovem gostava de subir com colegas. Inteirar-se das fofocas corriqueiras.
Era um dia chuvoso, na sala de aula os alunos um pouco mais inquietos que o normal. Na sala do filho do diretor, era ministrada uma aula de História. Professora da cidade vizinha, muito respeitada, mas um pouco enérgica.
Os meninos acharam um jeito de desestabilizá-la, a ponto de ter que chamar o diretor para intervir, afinal os meninos já eram homens e por segurança achou melhor não confrontá-los. Melhor agir com as armas que tinha, obtendo o apoio da direção da escola.
O diretor era um homem baixo, forte, bem humorado, calmo, divertido, mas justo e cumpridor de seu dever, se o tirasse do sério, transformava-se numa fera. Com a experiência que tinha de tantos anos dedicados à educação, sabia que a professora não o chamara sem motivo, algo saíra dos trilhos.
Entrou na sala com a faca nos dentes. Esbravejou, chamou a atenção, ameaçou suspender alunos que se não comportassem. De repente, olhou para o canto da sala, paralelo ao quadro negro, um enorme guarda-chuva, velho, encostado na parede, deixando escorrer pingos de água no piso da sala. Ainda sob a aparente fúria vociferou:
- De quem é esse caco de guarda-chuva que está molhando a sala?
- Do fundo da sala, um rapaz alto, forte, constrangido murmurou:
- Pai, esse guarda-chuva é nosso.
- A sala quase foi a baixo, eclodiu-se gargalhadas da primeira a última carteira.
- O diretor, sem jeito, contendo-se para não participar daquele momento de comicidade, disfarçou-se e saiu furtivamente da sala. - Impossível seguir com a normalidade da aula depois do ocorrido. Por sorte da professora, deu o sinal de que a aula terminara.
Mas o ocorrido foi assunto por um bom tempo na escola.